terça-feira, 13 de outubro de 2009

Marc Chagall - Surrealismo

Desde cedo, Chagall revelou sua personalidade na Escola de Paris. O crítico e promotor berlinense Herwarth Waldeu, escolheu-o para uma mostra, a sua primeira, na galeria “Der Sturm”, em Berlim, um dos principais pontos do movimento modernista. A introdução do catálogo, muito adequadamente, foi escrita pelo poeta e grande crítico. Apollinaire André Breton. Este, em seu manifesto surrealista, reconhece em Chagall o formulador ideal da fusão entre a poesia e as artes plásticas tão ambicionadas pelo surrealismo. “A metáfora assinala sua entrada triunfal na pintura moderna apenas por intermédio de Chagall”, dizia.O ponto em comum entre Chagall e o surrealismo é a exaltação do sonho, do inconsciente, do ilógico. Aqui, de nada valem as leis do mundo físico, não há mais barreiras entre os diversos reinos da natureza e as diferentes fases do tempo. Como no pensamento mágico, as coisas que normalmente são alheias entre si tornam-se interligadas. O presente não é só o “agora”, é também a lembrança do passado. A verdade é subjetiva. Por isso, a arte de Chagall representa a autobiografia íntima do pintor. Quando o artista chegou à Paris, já trazia consigo essa perspectiva poética e ilógica do inconsciente e da intuição, radicalmente oposta à reflexão racional. Vitebsk, mais do que Paris, responde pelas inclinações mais profundas que dirigiram sua expressão rumo ao fantástico. Assim como os poetas criaram a licença poética, Chagall criou a “licença pictórica” com seus quadros - algo que o público, uma vez vencida a relutância inicial, passa a aclamar.Esta é a sua revolução: substituir a ilustração do mundo percebido pelos sentidos, ou seja, “o mundo normal, real, objetivo”, pela ilustração da presença do “irreal” que existe nesse mundo. Chagall nos mostra até que ponto o elemento mágico permeia os dados mais concretos de nossa vivência diária. Daí, também, o desaparecimento dos limites entre o ontem e o hoje. O tempo pertence ao objetivo. Em nosso subconsciente, em nossas dimensões mais interiores, passado e presente coexistem e se fundem.Ora, se o pintor se liberta da necessidade de reproduzir o mundo sensível, é natural que igualmente use a cor com inteira liberdade, fazendo com que assuma função puramente simbólica. “Os tons de Chagall não contêm a luz física, mas sim iluminação psicológica”, no dizer acertado de um crítico.Quanto aos temas, nesses anos de formação, a evocação da infância, o amor, a paisagem russa e o calor da intimidade na casa paterna ocupam preponderantemente os pincéis do artista. Um de seus primeiros quadros, “Minha noiva com luvas pretas”, é o retrato de Bela Rosenfeld. Chagall a conheceu em 1909 e casaram-se seis anos depois. Este retrato, cronologicamente o primeiro e o mais célebre dos muitos trabalhos que lhe dedicou, é admirável pela expressão. A obra chega a ser desconcertante pela espiritualidade que emana da jovem, pela misteriosa vibração dos tons - um branco de esmalte, vigoroso no contraste com o fundo e as luvas pretas.Entre 1911 e 1912, vivendo em Ruche, um aglomerado de modestos estúdios em Montparnasse (onde também habitavam, entre outros, Héger, Modigliani e Soutine), Chagall alcança rapidamente sua maturidade poética e estilística. Os quadros desse período documentam uma precoce plenitude sensual; agressivo e paradoxalmente lírico em “Dedicado a minha mulher”; esplendidamente evocativo e mágico em “Eu e a aldeia e à Rússia, aos asnos e aos outros”. Eufórico e feliz no auto-retrato cubista “Com sete dedos”, Chagall domina todos os elementos de sua riquíssima visão, em que a alegria predomina sobre a tristeza, a pureza sobre a tragédia.Em 1914, fugindo da I Guerra Mundial, volta à Rússia, onde se casa com Bela e onde é envolvido pela Revolução de Outubro.Em 1918, designado pelas autoridades revolucionárias Comissário Cultural para a área de Vitebsk, dedica-se a reformular o ensino da arte. Depois de uma breve colaboração, como cenógrafo e estilista, no Teatro Judeu de Arte do Estado, emigra novamente. Em 1922, com a mulher e a filha Ida, recém-nascida, vai para Berlim. No ano seguinte fixa residência, pela segunda vez, em Paris. Chagall reencontra a alegria de viver. Seus quadros da década de 20 introduzem temas característicos dos apaixonados, com buquês de flores, nuvens e namorados sentados às margens do rio Sena.Até mesmo suas recordações de infância tornam-se mais líricas, como se passassem da memória para a tela através de um filtro de delicada sensibilidade. É o caso de “O violinista verde”. Chagall retrata seu personagem, um judeu humilde, oriundo de guetos russos, vestido com a toga de seu avô rabino. O rosto pintado de verde acentua a suavidade e a melancolia de seus traços.A atividade do artista é intensa, com numerosas exposições em vários países da Europa. Dedica-se, ainda, à ilustração de obras literárias de Gogol a La Fontaine e à Bíblia.Em 1931 viajou para a Terra Santa à procura da cor e tipos locais para ilustrações do Pentateuco. A Bíblia de Marc Chagall (1931-39 e 1952-56) representa um imenso trabalho iniciado em sua meia-idade e completado somente 25 anos mais tarde. Uma luz extraordinária banha as figuras rústicas de Vitebsk. Chagall se aproxima da Bíblia com uma interpretação única e ilustra o Pentateuco com retratos contendo ciclos de encontros históricos entre o homem e D´us.

Ass.: Giulia nº11

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